Experiência Comunitária Exco
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Revolta da Chibata o Filme
A interpretação do Maestro Laércio de Freitas é emocionante como João Cândido no seu depoimento no MIS em março de 1968 aos 87 anos. Ver o ator com sua família e netos, nos insere no universo de criação excepcional do roteirista e diretor Marcos Manhães Marins. Da Revolta da Chibata, aos acontecimentos do Golpe de 1964, repressão política da Ditadura Militar até a Chacina da Candelária no Rio em 1993. Fantástico e um desejo de ver novamente e discutir nossa realidade.
Numa época do Massacre de Paraisópolis em São Paulo. Fundamental divulgar por toda a periferia e sociedade civil. Hora de apoiarmos o projeto de um longa metragem. Muito obrigado ao diretor Marcos Manhães Marins e sua equipe. Somamos juntos!
Fotos Hugo Ferreira Zambukaki do Coletivo Catorze de Maio
domingo, 3 de junho de 2018
Síndrome da falta de percepção de identidade étnica…
Retintos, pouca tintas, afro-off White, Boçais, ladinos e crioulos
“Ou a ideologia da dominação dividir colorindo. ”
Nos anos sessenta era básico, passou das seis é boa noite. Creio que existe até hoje para as classes sociais dominantes. Há pouco vi enorme discussão sobre o nariz de um bebê, e discussões sobre “misturas”.
Somos um país com multiplicidade de culturas e misturas raciais ou étnicas. Desde Pindorama o choque cultural, entre “Jês-Tapuias” e “Tupis-Guaranis” na sua migração nos anos 1000 vindos do norte Guianas ou Caribe. Uns como a Luzia com fortes características africanas ou aborígenes (Oceania) outros com pele mais clara, e até hoje encontramos nas ruas de São Paulo, índios (guaranis?) com cabelos ruivos e aloirados. Caso de índios loiros, de pele clara e olhos claros são os Chachapoyas no Norte do Peru.
Família Chachapoya John de Nugent
Dizem serem cor de pele e olhos, apenas 5% do DNA humano, há os louros das ilhas Salomão, com DNA diferente dos cabelos louros dos europeus.
E os povos Bérberes do norte da África? Povo autóctone (nativo) e ancestral, tem pele e olhos claros. Uns ruivos, loiros e de olhos azuis. Nas Ilhas Canárias ocorreu o Primeiro Genocídio na África, os guanches (bérberes das Canárias) escravizados desde 1363 pelos portugueses, que os levavam para as ilhas dos Açores, Madeira e Portugal, os homens foram escravizados, mortos pelos espanhóis por volta de 1450 e 1465. As mulheres usadas pelos europeus para reprodução, o Padre José de Anchieta era filho de mãe Guanche.
Guanche de Juan Carlos Mora
O que falar da colonização Moura da Península Ibérica, França, e Itália. As invasões iniciadas por Al Tárique em 752, mouro berbere africano iniciou o Al-Andaluz, o estado islâmico civilizatório e tolerante derrubado só em 1492 pelas Cruzadas da Guerra chamada Reconquista.
Rainha Charlotte por Allan Ramsay, 1761
A classe dominante era moura africana, reis, rainhas, príncipes e princesas. Casas reais casavam-se entre si, com o casamento real na Inglaterra, levantou-se as origens da Rainha Charlotte da Inglaterra 1738 /1820, alemã de nascimento e descendente da Casa Real Portuguesa. Foi a primeira rainha negra da Inglaterra? Depois da 5ª geração aparecem se traços e características afros, devemos considerar a pessoa como mulata, multirracial?
Questiono por quê, agora com as cotas afirmativas há como se falava antigamente um patrulhamento sobre quem é ou não negro preto.
E vem uma enxurrada de ofensas, insinuações e calúnias. Afrobege, afro-oportunistas, poucas tintas e por aí vai...
Não é coisa nova o dividir para reinar, tática colonial de conquista, com pouca população Portugal e Espanha (os pioneiros das invasões), jogavam um grupo contra o outro, só assim conquistaram, nas Canárias, México, Peru, e Brasil.
Para o historiador Eduardo Silva, "a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada apenas na força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora dele, se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote com a recompensa."
Na época da escravidão classificavam em grupos com funções diferentes para desunidos lutarem entre si. Mais que os negros da Casa Grande, da Senzala e os dos Quilombos.
“Os escravos chamados "boçais", recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da lavoura. Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os mestres-de-açúcar, os ferreiros, e outros distinguidos pelo senhor de engenho. Chamava-se de crioulo o escravo nascido no Brasil. Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e de supervisão, deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos mais pesados. ”
O Quilombo unificava a luta, liberdade para quem lutava por ela.
Nossas conquistas começaram à serem efetuadas publicamente, no dia 7 de julho de 1978, fomos às escadas do Teatro Municipal, iniciado como “Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial” era uma Frente contra a discriminação, o racismo, a violência policial que matava negros. Ativistas, entidades, de toda a sociedade assumiram a luta. Era uma luta da Sociedade.
Negro era o descendente de africanos, que assumia a luta contra o preconceito, racismo, e pela cidadania plena. Diferenças de cor, tonalidade, se uniam na hora da luta, importava se você lutava, e o seu lado.
Referências:
https://zambukaki.blogspot.com/2018/05/a-primeira-rainha-negra-da-inglaterra.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Charlotte_of_Mecklenburg-Strelitz#Claims_of_African_ancestry
https://www.gamespot.com/forums/offtopic-discussion-314159273/can-a-white-man-have-an-afro-29371459/
https://www.theguardian.com/world/2009/mar/12/race-monarchy
http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/escr_conflito.html
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Quanto Portugal pagou pelo Nordeste aos holandeses
Reparações? Veja quanto Portugal pagou para retomar o Nordeste, mesmo os brasileiros tendo vencido os holandeses. “O negócio do Brasil”
Como Portugal comprou o Nordeste dos holandeses R$ 3 bilhões
Em livro relançado, historiador brasileiro diz que lusitanos pagaram o equivalente a 63 toneladas de ouro para ter região de volta mesmo depois de derrotar holandeses no século 17.
Quadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)
Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.
O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro "O negócio do Brasil", que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.
Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.
"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.
'Pechincha'
Bandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)
Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.
Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.
Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.
Gravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630 (Foto: BBC)
"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.
Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.
Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.
'Sem heroísmo'
Quadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635) (Foto: BBC)
Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.
Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".
"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.
"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".
"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".
Luís Guilherme Barrucho Da BBC Brasil em Londres 12/10/2015
domingo, 17 de setembro de 2017
Os dois Brasis
A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.
Escritor Luiz Ruffato causou grande estardalhaço ao focar no que o Brasil tem de pior em sua apresentação na Feira do Livro de Frankfurt de 2013, evento que se propunha a promover o país.
O mineiro Luiz Ruffato não poupou críticas ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt (Reprodução/DWL.Frey)
Na semana passada encerrou-se a Feira de Livros de Frankfurt, maior evento mundial do mercado editorial e ponto de encontro para negócios relacionados às editoras de todos os continentes.
Como o Brasil foi o país homenageado em 2013, o que tinha ocorrido antes somente em 1994, tivemos o direito de discursar no evento inaugural, cabendo a tarefa, entre os 70 escritores brasileiros convidados, ao mineiro Luiz Ruffato. Estando presentes autoridades alemães e brasileiras, aí incluídos o vice-presidente da república e a ministra da cultura, houve um grande estardalhaço com o teor da apresentação.
Normalmente, seria de se esperar que um brasileiro em evento que se propõe a promover o Brasil, falasse bem do país, pois poucos no exterior acreditam que, em termos de cultura, haja qualquer coisa no Brasil além de samba e futebol, para não descermos ao nível mais baixo dos atributos físicos das mulatas.
Ruffato inicia definindo o Brasil como um país dominado monetariamente pelo capitalismo selvagem, em todos os seus significados. Também expõe dados sociais e os compara com indicadores globais, conforme a seguir:
1. A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.
2. O índice de assassinatos no país: Ruffato destaca a alta taxa de homicídios no Brasil, que chega a de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a aproximadamente 37 mil pessoas mortas por ano, considerando a população brasileira – número três vezes maior do que a média mundial. A explicação poderia ter raízes históricas, e o escritor invoca a constituição do povo brasileiro, marcada pelo extermínio dos povos indígenas: eram 4 milhões de indígenas na época do descobrimento do Brasil, e hoje restam cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades.
3. Violência contra mulheres e crianças: o autor ressalta que o Brasil ocupa o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas, ao passo que em 2012 foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Ruffato lembra ainda que estes números são sempre subestimados, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, por diversas questões, muitas vezes familiares.
4. O problema do analfabetismo: ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo, já que 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.
5. Mercado editorial brasileiro: este mercado movimenta anualmente em torno de U$S 2,2 bilhões, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas às bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Todavia, o escritor não deixa de relatar pontos positivos: a maior vitória de sua geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, trata-se do período mais extenso de vigência do Estado Democrático de Direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. A implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou até mesmo os de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, também seriam pontos positivos a serem destacados.
Por fim, sem esquecer dos problemas estruturais diários, o escritor lembra que continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.
O sociólogo francês Jacques Lambert publicou na década de 50 o clássico ensaio Os dois Brasis, onde denunciava a dicotomia da pobreza convivendo com alguma modernidade e avanço. Em outro momento, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia, para denominar o Brasil como um misto de Bélgica desenvolvida com a outrora Índia muito pobre, antes de entrar para os BRICs. Deveria Luiz Ruffato ter mostrado também um Brasil melhor?
Paulo Gurgel Valente
Fonte Opinião e Política
18 out, 2013
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Quinzena do Negro na USP 1977
Nós que fundamos o Movimento Negro Unificado (inicialmente Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial) em 1978, na época tínhamos contatos com os movimentos de libertação que ocorriam na África, e com os movimentos negros da Diáspora. Tínhamos, mas no dia sete de julho comemoramos nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo 39 anos de MNU. Surgido em 1978 quando ocorreria as festividades dos 90 anos da Abolição da Escravatura, nós então jovens protestávamos pela morte de um jovem dentro de uma delegacia, e prela proibição de atletas negros frequentarem as áreas sociais de um clube.
Plena Ditadura, saímos as ruas para protestar, marco simbólico da retomada de protestos populares, e dos movimentos negros unidos em uma Frente, que se espalhou Brasil afora. Tenho orgulho de ter participado, mas não estou feliz. Em 1978 apontávamos uma morte do Robson, logo depois seguida do Nilton por policiais militares. No primeiro número do Cadernos Negros, havia uma poesia profética: “mataram um negro depois outro...” Os jornais mostram as estatísticas do primeiro semestre de 2017, a Polícia Militar em São Paulo matou 459 pessoas. Vivemos numa guerra, do Estado contra a população pobre, preta e periférica.
Parece que não temos memória, cada negro inicia uma nova luta por sua sobrevivência. Ontem foi uma celebração, o coletivo angolano Muximas na Diáspora, e os movimentos negros, e defensores dos direitos civis, tivemos oportunidade de confraternizar com um dos presos políticos angolanos. Pedimos que dessem visibilidade internacional, ao pedido de Liberdade para Rafael Braga, e até hoje perguntamos: “Cadê o Amarildo? ”
Orgulhoso, mas não feliz, lembrei da pioneira Quinzena do Negro na USP, ocorrida em 22 de maio até 8 de junho de 1977. Organizador Eduardo de Oliveira e Oliveira, Socióloga Beatriz do Nascimento, professor Clóvis Moura, professora Joana Elbein dos Santos. Foi um sucesso e marcou o questionamento do sentido da abolição e as influências nos descendentes dessa integração incompleta. Tínhamos mais contatos, em 1982 ocorreu o 3º. Congresso de Cultura Negra das Américas (IPEAFRO Abdias do Nascimento).
Esse marco histórico na USP que completou 40 anos a Quinzena do Negro na USP, alguém lembrou, comemorou? Alguma homenagem para esses ícones de nossa história, Eduardo de Oliveira Oliveira, Beatriz Nascimento e Clóvis Moura?
Durante duas semanas especialistas nos diversos campos das ciências sociais discutiram, na Universidade de São Paulo em 1977, os destinos dos descendentes dos africanos trazidos ao Brasil Colônia como escravos. Foi a Quinzena do Negro, iniciada no dia 22 de maio, e que se estendeu até o dia 8 de junho, sob o patrocínio do Departamento de Artes e Ciência s Humanas da Secretaria de Cultura, Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo.
O organizador, o sociólogo negro Eduardo de Oliveira e Oliveira, dizia sobre a proposta: “ A Quinzena seria um prenúncio daquilo que eu e um grupo de estudiosos estamos pensando: um trabalho mais amplo, de natureza nacional, possivelmente com autoridades internacionais, para o ano que vem, quando se comemora o 90º. Aniversário da Abolição da Escravatura. No encontro a pergunta básica será: que destino devem tomar os descendentes de escravos? ”
Quando completam-se 40 anos de uma conquista histórica, e com a aprovação da Cotas na USP, uma pergunta simples: Não vale uma comemoração?
Fotos Hugo Zambukaki
Fotogramas do vídeo Ori
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Luaty Beirão Centro de Estudos Africanos USP
Ontem dia 3/8 no auditório da Centro de Estudos Africanos (CEA) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP, tivemos uma grande alegria, encontrar Luaty Beirão, rapper e escritor angolano. Um dos jovens ativistas presos em 2015 os chamados 15+2, por estarem lendo um livro foram acusados de estarem promovendo um golpe de estado contra o governo do presidente angolano José Eduardo do MPLA, eleito interruptamente há quase quarenta anos.
Luaty tornou-se o símbolo da campanha internacional #LiberdadeJá, por sua exposição como rapper e dupla cidadania, filho de um dos principais quadros do MPLA. E principalmente por seu extremo amor por Angola e fortes convicções. Entrou em greve de fome, o regime ditatorial de Angola transformou-o em um mártir. Ele cobrava simplesmente seus direitos de cidadão.
Sua imagem deitado na cama, aparência de moribundo, correu o mundo misto de cristo e che. Manifestações ocorreram, na Inglaterra, Alemanha, França, Portugal, pedindo a liberdade dos presos políticos angolanos.
Tantas que, até no Brasil... Da Bahia veio o grito do professor Ney D´Dan, em Brasilia a professoras Neide Samico foi organizado um movimento de indignação nacional Estimulado pela ação de um grupo angolano de São Paulo Muximas na Diápora, os movimentos negros e da sociedade civil se manifestaram: #LiberdadeJá.
Muito nos guiou o poema de Solano Trindade, e um artigo da professora Susan de Oliveira sobre os Revús. Logo um documentário das cineastas Eliza Capai e Natália Viana nos reafirmava nossos rumos.
Muito se falou de Luaty, gostaria de falar o isolamento do Brasil perante o mundo, sendo mais específico dos movimentos negros no Brasil. Nós que fundamos o Movimento Negro Unificado (inicialmente Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial) em 1978, na época tínhamos contatos com os movimentos de libertação que ocorriam na África, e com os movimentos negros da Diáspora. Tínhamos, mas no dia sete de julho comemoramos nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo 39 anos de MNU. Surgido em 1978 quando ocorreria as festividades dos 90 anos da Abolição da Escravatura, nós então jovens protestávamos pela morte de um jovem dentro de uma delegacia, e prela proibição de atletas negros frequentarem as áreas sociais de um clube.
Plena Ditadura, saímos as ruas para protestar, marco simbólico da retomada de protestos populares, e dos movimentos negros unidos em uma Frente, que se espalhou Brasil afora. Tenho orgulho de ter participado, mas não estou feliz. Em 1978 apontávamos uma morte do Robson, logo depois seguida do Nilton por policiais militares. No primeiro número do Cadernos Negros, havia uma poesia profética: “mataram um negro depois outro...” Os jornais mostram as estatísticas do primeiro semestre de 2017, a Polícia Militar em São Paulo matou 459 pessoas. Vivemos numa guerra, do Estado contra a população pobre, preta e periférica.
Parece que não temos memória, cada negro inicia uma nova luta por sua sobrevivência. Ontem foi uma celebração, o coletivo angolano Muximas na Diáspora, e os movimentos negros, e defensores dos direitos civis, tivemos oportunidade de confraternizar com um dos presos políticos angolanos. Pedimos que dessem visibilidade internacional, ao pedido de Liberdade para Rafael Braga, e até hoje perguntamos: “Cadê o Amarildo? ”
Pensávamos que não seria possível esse encontro, Luaty Beirão veio para a FLIP ocorrida em Paraty, foi no Rio na Favela do Vidigal. São Paulo esquecida, sem contatos internacionais, isolados no mundo. Para satisfação o Centro de Estudos Africanos da USP (CEA) através dos esforços da sua Diretora professora Tania Macedo, nos deu essa alegria de celebrar.
Orgulhoso, mas não feliz, lembrei da pioneira Quinzena do Negro na USP, ocorrida em 22 de maio até 8 de junho de 1977. Organizador Eduardo de Oliveira e Oliveira, Socióloga Beatriz do Nascimento, professor Clóvis Moura, professora Joana Elbein dos Santos. Foi um sucesso e marcou o questionamento do sentido da abolição e as influências nos descendentes dessa integração incompleta. Tínhamos mais contatos, em 1982 ocorreu o 3º. Congresso de Cultura Negra das Américas (IPEAFRO Abdias do Nascimento).
Esse marco histórico na USP que completou 40 anos a Quinzena do Negro na USP, alguém lembrou, comemorou? Alguma homenagem para esses ícones de nossa história, Eduardo de Oliveira Oliveira, Beatriz Nascimento e Clóvis Moura?
Esse contato com Luaty Beirão promovido pelo Centro de Estudos Africanos e sua diretora Tania Macedo, nos traga o brilho de nossa história e os laços ocorridos transformem-se em pontes.
E se perguntarem temos orgulho, o Coletivo Catorze de Maio se faz presente.
Fontes citadas:
O rap e o ativismo pelos direitos humanos em Angola, por Susan de Oliveira
“É Proibido falar em Angola” Agência Pública, vídeo de Eliza Capai e Natalia Viana.
https://www.voaportugues.com/a/documentario-e-proibido-falar-em-angola-bloco-1/3067095.html
Fotogramas do filme Ori no documentário Ôrí, lançado em 1989, pela cineasta e socióloga Raquel Gerbe 1989
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Pisaram nossas Bandeiras, NÃO HOUVE SILÊNCIO!
Irmã Neuza Maria Pereira Lima, deu orgulho ver esse vídeo, ver, rever e ver de novo.
Agressão física era os provocadores esperavam, uma mulher branca idosa agredida por negros! Ela não estava sozinha, na frente ela e um senhor também idoso. Ela arrogante pisa as bandeiras, ele destemido passa atrás do orador Wilson entre Adriana e José Adão, atrás vem mulheres jovens, e por último um homem maduro, bem forte que ao passar atrás do professor Wilson tem na cara de “alamão” (sou filho de migrantes) sorriso escancarado de escárnio, antes de entrarem na “casa grande” do Teatro Municipal.
Pisaram nossas bandeiras, destemidos senhores aristocratas como devem ter sido seus ancestrais, passaram no meio das nossas lideranças no Ato. Procuravam uma reação física, uma mera agressão, um tapa, um encostar de mão, ou uma jogada e rolada de escada.
Assim haveria justificativas para chamarem a polícia militar, para encerrarem, prenderem os manifestantes.
Nada disso ocorreu. E como me orgulho! E já canta Gil “a felicidade do negro, é uma felicidade guerreira, Zumbi, comandante guerreiro, Ogunhê, ferreiro-mor capitão, Da capitania da minha cabeça”.
Na avenida Paulista ocorreu há pouco o mesmo, numa marcha fascista contra imigrantes, os jovens palestinos do Al Jahiah, foram provocados, depois espancados, e PRESOS pela Polícia Militar.
Pisaram nas bandeiras dos coletivos negros presentes no Ato de Celebração em luta dos 39 anos do MNU. Passaram no meio de nossas lideranças, no alto das escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, não houve um gesto de agressão física. Eu me orgulho, NÃO HOUVE SILÊNCIO!
Pisaram em nossas bandeiras, em frente ao símbolo da aristocracia burguesa paulistana, a “casa grande do Teatro Municipal de São Paulo”. Pisaram nossas bandeiras, os descendentes dos escravocratas barões do café, descendentes dos bandeirantes, que exterminavam e índios e os escravizavam, dos bandeirantes que arrasaram com a Livre República de Palmares. Descendentes dos “paulistas” que invadiram Angola e retomaram para Portugal da mão dos holandeses, para garantir o porto escravista português.
Pisaram, mas não foi na senzala. Em frente à casa grande do Teatro Municipal de São Paulo, estavam guerreiras, guerreiros e crianças seu filhos de orgulho quilombola. Oposto de casa grande é quilombo, não senzala.
Vendo o vídeo, reações de gritos desde o início, pouco à pouco gritos fortes, a reação do orador professor Wilson, usa uma arma: sua voz como fio de navalha, cortando a mente. Protestando, cobrando, comparando o Teatro Municipal ao símbolo da Casa Grande.
Rápidos vários guerreiros correm, sobem e protestam, usando a arma de nossas inteligências e força, nossa voz. Quando os provocadores entram no Teatro Municipal de São Paulo, buscando proteção e apoio, nós seguimos confiantes continuando a cobrança secular. Na frente Durval Arantes, e outros companheiros: Dá para ouvir claramente: “Cala a boca”; “Racistas”! Os senhores donos dos nossos destinos como nação calam-se.
Subimos e protestamos, liderados pela voz forte do professor Wilson, os guerreiros a frente, professores, escritores usaram a arma da razão: a palavra! Eu com meus 70 anos, na retaguarda, trôpego filmando (péssimas imagens). Velho juruna digital, ficará o registro.
Discordei de irmos conversar com o secretário da cultura, apoiei a invasão para cobrar dos racistas, sem um ato de agressão física. Palavras fortes e determinadas, cobrando nosso espaço na sociedade brasileira.
Como ocorreu há pouco num ato no Al Janiah promovida pelo imigrante congolês Christo Kamanda, uma mulher provocava, impedindo os africanos na mesa de falarem, e num ato como esse dizia: “No Brasil não existe discriminação e racismo”! Os coletivos negros garantiram a palavra e a continuidade do ato dos africanos. O “Coletivo Catorze de Maio” também presente, protestou e gravou.
Não agredimos racistas, usamos a voz forte da cobrança, mas não abraçamos nossos agressores.
Por menos o catador Ricardo Teixeira Santos, em Pinheiros recebeu um tiro no peito desferido pela Polícia Militar. Como em 1978 na morte de Nilton num ponto de ônibus na Lapa, “um tiro acidental, liquidou a questão”...
Fernando Samuel Souza Maria sentindo-se com raiva com Gilda Vendramin Além Paraíba Minas Gerais. Disse há dias sobre essa agressão racista:
“Hoje estão pisando nossas bandeiras, nossa história. Se não reagirmos, amanhã vão pisar os nossos corpos inertes. Está na hora de unificação de nossos coletivos. ”
O vídeo do dia 7 de julho de 2017.
https://www.youtube.com/watch?v=-lw1hPnVcog
Orgulho e honra aos que se foram, resistentes, e jovens dessa luta secular. Hugo Ferreira Zambukaki